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O que fazes numa tarde de chuva?

sexta-feira, fevereiro 13, 2004

Equador 

Este é um livro para ler de um só fôlego. São cerca de quinhentas páginas que se devoram mais depressa que a própria estória que, depois de acabada a leitura, continua a acompanhar-nos em pensamento.
É um romance histórico, um romance político e um romance romance, que retrata uma época específica da sociedade portuguesa, uma época conturbada em ponto de viragem. Este retrato do início do Séc. XX não deixa de constituir uma crítica à sociedade portuguesa do início do Séc. XXI.

Luís Bernardo é um bon vivant lisboeta, bem na vida e defensor da liberdade que, no espaço de uma semana, deixa de ser sócio principal da Companhia Insular de Navegação para passar a ser Governador da ilha de São Tomé. Os seus princípios não são muito bem aceites na sociedade fechada de S. Tomé, que o deixa entregue à sua solidão. É uma solidão devoradora e devastadora, torpe, que é amenizada aquando da chegada do consul inglês e sua esposa, com quem encontra grande afinidade. O Governador trabalha afincadamente na sua função, apesar de a linha que separa o acabar com a mão de obra escrava dissimulada, ou o dissimular a mão de obra escrava aos olhos do inteligente e intuitivo consul, ser bastante ténue e por vezes imperceptivel para o próprio governador.

No início do livro, Miguel Sousa Tavares diz que "Equador" é a possível contracção da expressão "é com dor" (e-cum-dor, em português antigo), e é com dor que Luís Bernardo vive na Ilha de São Tomé, é com dor que os nativos trabalham nas roças de cacau, é com dor que o amor é vivido naquela ilha tropical de chuvas densas, malária e humidade a 90%.

Não me arrisco a dizer que este enleado de estórias na História Portuguesa do início do Séc XX seja uma obra genial, mas constitui, seguramente, uma obra perfeita.
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